Crescem os serviços oferecidos para idosos

Cresce o número de serviços oferecidos para idosos no Brasil. Aumento da população com idade superior a 65 anos cria oportunidades de negócios e em Brasília, empresário lucra com empresa de terceirização de cuidadores.

Ao perceber no noticiário o envelhecimento mais acelerado da população brasileira e o aumento das necessidades especiais dos idosos, o microempresário Júlio César da Costa Gonçalves, 60 anos, viu a oportunidade para diversificar os negócios e resolveu entrar no ramo de terceirização de cuidadores. Hoje, não se arrepende da iniciativa tomada há dois anos e se prepara para passos mais largos.

“O negócio está progredindo. Dobramos o pessoal e registramos um crescimento mensal de 10% a 15% no número de clientes neste ano”, conta o proprietário da Viver. Nos próximos dias, ele vai deixar a sala de 10 metros quadrados no Lago Sul e mudar para um escritório 10 vezes maior.

A empresa já tem uma filial no Rio de Janeiro e Gonçalves pensa em abrir uma unidade em Curitiba ou em São Paulo. O administrador explica o que o levou a apostar no segmento.

“Percebi que havia um mercado com potencial, porque a demanda por cuidadores vai crescer muito. Hoje, as famílias são menores e, normalmente, a esposa não fica mais em casa cuidando dos idosos, como no passado”, afirma.

Gonçalves abriu a empresa em parceria com a sobrinha, que é enfermeira. Mas, como ela precisou deixar Brasília, ele resolveu continuar com o negócio sozinho. Atualmente, emprega oito pessoas na área administrativa, responsáveis pela gestão e treinamento adicional dos 105 cuidadores cadastrados que atendem a 42 clientes. Cada idoso demanda, dependendo da necessidade, até quatro profissionais por dia. Entre os cuidadores, destacam-se ex-babás, ex-empregadas domésticas e ex-motoristas.

O caso dessa microempresa ilustra a mudança demográfica que ocorre no Brasil. Pelas projeções do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), a população de idosos chegará a 58,2 milhões em 2060, mais do que o triplo da de hoje.

“O país está envelhecendo e precisará se adaptar à nova realidade demográfica. Não é apenas o governo que terá de se ajustar. Os mercados, as cidades, as famílias também precisam se preparar”, explica o demógrafo Cássio Turra, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Pelas estimativas do IBGE, o país tem, hoje, 19,2 milhões de pessoas acima de 65 anos. O Ministério do Trabalho registra 31.245 cuidadores com vínculo empregatício no país. Mas o crescimento da população idosa vem se acentuando há mais de uma década. Não à toa, mudar de profissão foi a saída do desemprego para a cuidadora Sônia Maria Pereira, 61 anos. Moradora da Zona Sul de São Paulo, ela sempre trabalhou como auxiliar de escritório mas, quando ficou mais velha e as ofertas de trabalho escassearam, viu que era preciso fazer uma capacitação.

“Hoje, as famílias são menores e, normalmente, a esposa não fica mais em casa cuidando dos idosos, como no passado”
Júlio César da Costa Gonçalves, microempresário

Concorrência

Sônia escolheu uma boa escola para ter conhecimento da área e conseguiu voltar ao mercado de trabalho em 2008. Desde então, não teve mais problemas para arrumar emprego, embora admita que a concorrência vem aumentando.

“Fiquei uns quatro anos desempregada, devido à idade. Só fazia bicos, quando resolvi fazer o curso. Naquela época, foi mais fácil, não tinha tantas cuidadoras. Graças ao bom desempenho nas residências onde trabalhei, tenho tido muitas indicações”, conta.

O economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), destaca que não é apenas o envelhecimento da população que vai mudar a realidade do mercado de trabalho.

“A população de idosos está aumentando, mas a taxa de natalidade está diminuindo. O número de alunos matriculados no ensino básico está caindo como um todo. Portanto, a quantidade de alunos tende a diminuir no ensino fundamental e haverá menos necessidade de professores nesse segmento. No entanto, haverá maior demanda de professores de ensino superior. Essa necessidade de migração precisará ser antecipada”, avisa.

O número de crianças vem caindo ano a ano. Em 2060, conforme as projeções do IBGE, a população de jovens de até 14 anos será de 33,6 milhões, uma queda de 24,5% em relação aos 44,5 milhões atuais.

“(A diminuição de alunos no ensino fundamental e o aumento no ensino superior) contribuirá para que a produtividade aumente com a melhoria da capacitação das pessoas”
Ana Amélia Camarano, economista do Ipea

Para Ana Amélia Camarano, coordenadora de Estudos e Pesquisas de Igualdade de Gênero, Raça e Gerações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a virada poderá ser uma oportunidade para que o gasto público com educação mais qualificada aumente.

“Isso contribuirá para que a produtividade aumente com a melhoria da capacitação das pessoas”, afirma. Márcio Minamiguchi, demógrafo do IBGE, destaca que, com o aumento da população idosa, em termos de gasto público, a demanda financeira será maior do que para os jovens. “Para qualquer país com a população mais escolarizada, envelhecer é sempre um desafio menos complicado”, destaca.

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